Africanos
O tráfico de escravos trouxe para o Brasil negros africanos oriundos de diversas regiões da África.
Desembarque estimado de escravos africanos no Brasil, por procedência regional períodos de 1701-1710 a 1801-1810 | |||
Períodos | Desembarque estimado de escravos africanos | ||
Total | Procedência regional | ||
Costa do Marfim | Angola | ||
1701-1710 | 153700 | 83700 | 70000 |
1711-1720 | 139000 | 83700 | 55300 |
1721-1730 | 146300 | 79200 | 67100 |
1731-1740 | 166100 | 56800 | 109300 |
1741-1750 | 185100 | 55000 | 130100 |
1751-1760 | 169400 | 45900 | 123500 |
1761-1770 | 164600 | 38700 | 125900 |
1771-1780 | 161300 | 29800 | 131500 |
1781-1790 | 178100 | 24200 | 153900 |
1791-1800 | 221600 | 53600 | 16800 |
1801-1810 | 206200 | 54900 | 151300 |
Total | 1891400 | 605500 | 1285900 |
Era grande a variedade de termos que designavam os grupos negros no Brasil. Entretanto, mesmo confundidos sob uma única denominação étnica, cada africano conservava a sua tradição cultural, ou seja, sabia que "tinha sua terra", como declarou um dos escravos envolvidos na rebelião de 1835 na Bahia.
A maioria destas denominações foram adquiridas no circuito do tráfico, mas com frequência acabaram adotadas e reconstruídas no Brasil pelos próprios escravos.
Confira no quadro ao lado alguns dos grupos negros e suas denominações no Brasil.
Na sociedade brasileira do século XIX, havia um ambiente favorável ao preconceito racial, dificultando enormemente a integração do negro. De fato, no Brasil republicano predominava o ideal de uma sociedade civilizada, que tinha como modelo a cultura européia, onde não havia a participação senão da raça branca. Este ideal, portanto, contribuía para a existência de um sentimento contrário aos negros, pardos, mestiços ou crioulos, sentimento este que se manifestava de várias formas: pela repressão às suas atividades culturais, pela restrição de acesso a certas profissões, as "profissões de branco" (profissionais liberais, por exemplo), também pela restrição de acesso a logradouros públicos, à moradia em áreas de brancos, à participação política, e muitas outras formas de rejeição ao negro.
Contra o preconceito e em defesa dos direitos civis e políticos da população afrobrasileira surgiram jornais, como A Voz da Raça, O Clarim da Alvorada; clubes sociais negros e, em especial, a Frente Negra Brasileira, que tendo sido criada em 1931, foi fechada em 1937 pelo Estado Novo.
No continente americano, o Brasil foi o país que importou mais escravos africanos. Entre os séculos XVI e meados do XIX, vieram cerca de
4 milhões de homens, mulheres e crianças, o equivalente a mais de um terço de todo comércio negreiro. Uma contabilidade que não é exatamente para ser comemorada.
Desembarque estimado de africanos no Brasil Séculos XVI-XVIII Períodos 1531-1575 a 1771-1780 | |
Períodos | No período |
1531-1575 | 10000 |
1576-1600 | 40000 |
1601-1625 | 100000 |
1626-1650 | 100000 |
1651-1670 | 185000 |
1676-1700 | 175000 |
1701-1710 | 153700 |
1711-1720 | 139000 |
1721-1730 | 146300 |
1731-1740 | 166100 |
1741-1750 | 185100 |
1751-1760 | 169400 |
1761-1770 | 164600 |
1771-1780 | 161300 |
Total | 1895500 |
Desembarque estimado de africanos no Brasil Século XVIII e quinquênios de 1781-1785 a 1851-1855 | |
Períodos | No período |
1781-1785 | 63100 |
1786-1790 | 97800 |
1791-1795 | 125000 |
1796-1800 | 108700 |
1801-1805 | 117900 |
1806-1810 | 123500 |
1811-1815 | 139400 |
1816-1820 | 188300 |
1821-1825 | 181200 |
1826-1830 | 250200 |
1831-1835 | 93700 |
1836-1840 | 240600 |
1841-1845 | 120900 |
1846-1850 | 157500 |
1851-1855 | 6100 |
Total | 2113900 |
Portugueses
Os registros da imigração portuguesa apareceram no século XVIII e se tornaram mais regulares a partir do século XIX. Devido aos inúmeros estudos sobre o tema, hoje já se pode contar com estimativas mais confiáveis sobre o número de imigrantes que vieram para o Brasil desde o século XVI.
Nos primeiros dois séculos de colonização vieram para o Brasil cerca de 100 mil portugueses, uma média anual de 500 imigrantes. No século seguinte, esse número aumentou: foram registrados 600 mil e uma média anual de 10 mil imigrantes portugueses. O ápice do fluxo migratório ocorreu na primeira metade do século XX, entre 1901 e 1930: a média anual ultrapassou a barreira dos 25 mil.
A origem sócio econômica do português imigrante é muito diversificada: de uma próspera elite nos primeiros séculos de colonização, passou-se a um fluxo crescente de imigrantes pobres a partir da segunda metade do século XIX. Estes últimos foram alvo de um anedotário pouco condizente com a rica herança cultural que nos deixou o português.
Compare as estimativas do total de portugueses que entraram no Brasil desde o século XVI na tabela abaixo:
Estimativas de Imigração Portuguesa no Brasil | ||||
Período | América Portuguesa | Império Colonial | Média anual América Portuguesa | Média anual Império Colonial |
1500-1580 | 100.000 | 280.000 | 500 | 3.500 |
1581-1640 | 300.000 | 5.000 | ||
1641-1700 | 120.000 | 2.000 | ||
1701-1760 | 600.000 | 10.000 | ||
1808-1817 | 24.000 | 2.666 | ||
1827-1829 | 2.004 | 668 | ||
1837-1841 | 629 | 125 | ||
1856-1857 | 16.108 | 8.054 | ||
1881-1900 | 316.204 | 15.810 | ||
1901-1930 | 754.147 | 25.138 | ||
1931-1950 | 148.699 | 7.434 | ||
1951-1960 | 235.635 | 23.563 | ||
1961-1967 | 54.767 | 7.823 | ||
1981-1991 | 4.605 | 406 |
Japones
Em 18 de junho de 1908, desembarcaram os primeiros imigrantes japoneses no porto de Santos, trazidos pelo navio Kasato Maru. Desde então, são muitas histórias: destinos que se selariam numa aventura sem precedentes para aqueles que migraram e também para a sociedade que os adotou.
A emigração de trabalhadores japoneses para outros países teve início na década de 1870, bem antes de sua vinda para o Brasil. O Japão então passava pela Restauração Meiji (1868), o que implicou mudanças econômicas e políticas que inseriram o país no mundo moderno. Este período foi marcado pela queda do xogunato e pela volta do poder às mãos do imperador, por força de uma nova constituição inspirada nas constituições ocidentais modernas.
- Assim, do lado do Japão, a emigração foi um resultado da modernização que marcou uma nova etapa da história japonesa: o país se abriu para o mundo ocidental, celebrou tratados comerciais que, dentre outras coisas, viabilizaram a saída dos trabalhadores japoneses. Nesse período, a política emigratória teve como principal objetivo aliviar as tensões sociais internas advindas da escassez de terras e do endividamento dos trabalhadores rurais, muito em função dos projetos governamentais de modernização.
- Do lado brasileiro, então, a necessidade da mão-de-obra para substituir o trabalho escravo foi o fator primordial pois, desde a Independência, esta substituição já era uma preocupação das classes dirigentes. No entanto, uma política imigratória mais definida só viria a ganhar importância na agenda governamental, com o fim do tráfico de escravos.
O fluxo migratório em direção ao Brasil, entretanto, só se intensificou a partir da primeira década do século XX, justamente quando o governo norte-americano
- destino preferencial dos emigrantes japoneses - vetou a imigração japonesa.
O que marca a presença do imigrante japonês no Brasil são as reações causadas pelas suas diferenças étnicas, ou seja, físicas e culturais. Estas diferenças eram enfatizadas nos debates sobre a sua entrada no país, argumentando-se que os japoneses constituiam-se como um povo impossível de se integrar à cultura local.
Apesar da preocupação com a escassez de
mão-de-obra, o governo brasileiro não incentivou a imigração de trabalhadores japoneses, senão mais tardiamente. Esta atitude do governo brasileiro condiz com o conjunto de idéias que predominavam no país naquele período:
- Durante todo o século XIX, predominou na sociedade brasileira o ideal de branqueamento da população que era não só visto como possível de ser realizado, como igualmente desejável para que nos tornássemos um país "civilizado".
Por este motivo, nos debates das elites brasileiras sobre a imigração, era forte a resistência à entrada de asiáticos no país, o que explica o decreto de 28/6/1890, em vigor até o início do século XX, restringindo a entrada desses imigrantes.
- Por causa das diferenças físicas e culturais, os trabalhadores japoneses eram vistos como não-assimiláveis, necessitando de vigilância permanente. Esta percepção persiste pelo menos até o Estado Novo, explicando, em parte, a política imigrantista do governo Vargas em relação à comunidade nipo-brasileira.
- Muitos dos imigrantes japoneses encontraram no comércio urbano sua fonte de renda, mas, sem dúvida, a maioria foi direcionada para a produção agrícola. Muitos foram trabalhar nas lavouras de café paulistas, como colonos.
Principais regiões de destino
A década de 30 até a Segunda Guerra Mundial, foi o período de maior fluxo migratório de toda a história da imigração japonesa no Brasil.
Distribuição dos imigrantes oriundos do Japão, naturais e brasileiros, segundo as Unidades da Federação - 1940/1950 (Regiões selecionadas) | ||||
Unidade da Federação | Dados absolutos | Proporções por 100.000 | ||
1940 | 1950 | 1940 | 1950 | |
Amazonas | 305 | 201 | 211 | 156 |
Pará | 467 | 421 | 323 | 326 |
Minas Gerais | 893 | 917 | 618 | 710 |
Rio de Janeiro | 380 | 1.086 | 263 | 841 |
Distrito Federal | 538 | 392 | 372 | 303 |
São Paulo | 132.216 | 108.912 | 91.484 | 84.302 |
Paraná | 8.064 | 15.393 | 5.580 | 11.915 |
Mato Grosso | 1.128 | 1.172 | 780 | 907 |
Brasil | 144.523 | 129.192 | 100.000 | 100.000 |
Outros grupos
Judeus: Moishe Nadir, escritor judeu oriundo da Europa Oriental, contava a seguinte história:
Certa vez ele comprou um lote de ações de uma companhia de exploração de cobre. Como as ditas ações não cessavam de cair, ele foi ter com o vendedor, pedindo-lhe explicações para a brusca queda. Este lhe respondeu que o problema era compreensível: a culpa era do Brasil. E seguiu contando a difícil situação econômica vivida pelo país, que havia tido naquele ano uma péssima colheita de bananas, o que havia incidido negativamente sobre a indústria do cobre e, portanto, sobre o valor de suas ações. Ao ouvir isso, Moishe teria respondido: "Isto significa que agora meu destino depende completamente do Brasil e de suas bananas…". Nadir não entendia nada de bananas, e menos ainda sabia sobre o Brasil.
Nos últimos quinhentos anos, por diferentes razões, o Brasil foi o destino escolhido pelos milhares de judeus e cristãos-novos - portugueses de origem judaica convertidos ao cristianismo - que aqui aportaram, originários de Portugal, Espanha, Marrocos, Inglaterra, França, Turquia, Alemanha, Áustria, Polônia, Rússia, Romênia, Holanda, Hungria, Egito e tantos outros países.
Alemães: Os primeiros imigrantes alemães chegaram no Brasil ainda no reinado de D. Pedro I. Estabeleceram-se no Sudeste e Sul do país onde, a partir de 1824, fundou-se a colônia alemã de São Leopoldo (Rio Grande do Sul).
Somente uma pequena parcela da emigração européia, entre ela a alemã, dirigiu-se para o Brasil: cerca de 4 500 000, num universo de mais de 35 000 000 de emigrantes europeus. O restante se deslocou para os Estados Unidos, Uruguai, Argentina, Austrália e para outros destinos.
Italianos: Foram muitas as nacionalidades de imigrantes que vieram para o Brasil desde as primeiras décadas do século XIX, mas o italiano, mesmo não sendo o "mais branco e instruído", ficou marcado como um imigrante adequado e confiável para a execução das tarefas que o Brasil dele esperava.
A importância deste grupo no movimento migratório europeu que teve como destino o Brasil, é enorme por várias razões:
Uma delas é de ordem quantitativa: entre 1870 e 1920, momento áureo do largo período denominado como da "grande imigração", os italianos corresponderam a 42% do total dos imigrantes entrados no Brasil, ou seja, em 3,3 milhões pessoas, os italianos eram cerca de 1,4 milhões.
Outras são de natureza qualitativa: o italiano reuniu as duas condições de imigração mais valorizadas por autoridades públicas, por intelectuais e por empresários privados. A proximidade de língua, religião e costumes, fez o imigrante italiano mais facilmente assimilável por nossa sociedade do que os alemães ou japoneses, por exemplo; além disto, correspondeu aos ideiais de branqueamento de nossa população, acreditado como desejável para que nos tornássemos mais "civilizados" diante de nossos próprios olhos e aos olhos do mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário