segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Africanos

 A contribuição cultural de escravos-negros é enorme. Na religião, música, dança, alimentação, língua, temos a influência negra, apesar da repressão que sofreram as suas manifestações culturais mais cotidianas.
O tráfico de escravos trouxe para o Brasil negros africanos oriundos de diversas regiões da África.


Desembarque estimado de escravos africanos no Brasil, por procedência regional
períodos de 1701-1710 a 1801-1810
PeríodosDesembarque estimado de escravos africanos
TotalProcedência regional
Costa do MarfimAngola
1701-17101537008370070000
1711-17201390008370055300
1721-17301463007920067100
1731-174016610056800109300
1741-175018510055000130100
1751-176016940045900123500
1761-177016460038700125900
1771-178016130029800131500
1781-179017810024200153900
1791-18002216005360016800
1801-181020620054900151300
Total18914006055001285900



Era grande a variedade de termos que designavam os grupos negros no Brasil. Entretanto, mesmo confundidos sob uma única denominação étnica, cada africano conservava a sua tradição cultural, ou seja, sabia que "tinha sua terra", como declarou um dos escravos envolvidos na rebelião de 1835 na Bahia.
A maioria destas denominações foram adquiridas no circuito do tráfico, mas com frequência acabaram adotadas e reconstruídas no Brasil pelos próprios escravos.
Confira no quadro ao lado alguns dos grupos negros e suas denominações no Brasil.




Na sociedade brasileira do século XIX, havia um ambiente favorável ao preconceito racial, dificultando enormemente a integração do negro. De fato, no Brasil republicano predominava o ideal de uma sociedade civilizada, que tinha como modelo a cultura européia, onde não havia a participação senão da raça branca. Este ideal, portanto, contribuía para a existência de um sentimento contrário aos negros, pardos, mestiços ou crioulos, sentimento este que se manifestava de várias formas: pela repressão às suas atividades culturais, pela restrição de acesso a certas profissões, as "profissões de branco" (profissionais liberais, por exemplo), também pela restrição de acesso a logradouros públicos, à moradia em áreas de brancos, à participação política, e muitas outras formas de rejeição ao negro.
Contra o preconceito e em defesa dos direitos civis e políticos da população afrobrasileira surgiram jornais, como A Voz da Raça, O Clarim da Alvorada; clubes sociais negros e, em especial, a Frente Negra Brasileira, que tendo sido criada em 1931, foi fechada em 1937 pelo Estado Novo.


No continente americano, o Brasil foi o país que importou mais escravos africanos. Entre os séculos XVI e meados do XIX, vieram cerca de 
4 milhões de homens, mulheres e crianças, o equivalente a mais de um terço de todo comércio negreiro. Uma contabilidade que não é exatamente para ser comemorada. 





Desembarque estimado de africanos
no Brasil Séculos XVI-XVIII
Períodos 1531-1575 a 1771-1780
PeríodosNo período
1531-157510000
1576-160040000
1601-1625100000
1626-1650100000
1651-1670185000
1676-1700175000
1701-1710153700
1711-1720139000
1721-1730146300
1731-1740166100
1741-1750185100
1751-1760169400
1761-1770164600
1771-1780161300
Total1895500


Desembarque estimado de africanos
no Brasil Século XVIII e
quinquênios de 1781-1785 a 1851-1855
PeríodosNo período
1781-178563100
1786-179097800
1791-1795125000
1796-1800108700
1801-1805117900
1806-1810123500
1811-1815139400
1816-1820188300
1821-1825181200
1826-1830250200
1831-183593700
1836-1840240600
1841-1845120900
1846-1850157500
1851-18556100
Total2113900





Portugueses



Os registros da imigração portuguesa apareceram no século XVIII e se tornaram mais regulares a partir do século XIX. Devido aos inúmeros estudos sobre o tema, hoje já se pode contar com estimativas mais confiáveis sobre o número de imigrantes que vieram para o Brasil desde o século XVI.

Nos primeiros dois séculos de colonização vieram para o Brasil cerca de 100 mil portugueses, uma média anual de 500 imigrantes. No século seguinte, esse número aumentou: foram registrados 600 mil e uma média anual de 10 mil imigrantes portugueses. O ápice do fluxo migratório ocorreu na primeira metade do século XX, entre 1901 e 1930: a média anual ultrapassou a barreira dos 25 mil.

A origem sócio econômica do português imigrante é muito diversificada: de uma próspera elite nos primeiros séculos de colonização, passou-se a um fluxo crescente de imigrantes pobres a partir da segunda metade do século XIX. Estes últimos foram alvo de um anedotário pouco condizente com a rica herança cultural que nos deixou o português.

Compare as estimativas do total de portugueses que entraram no Brasil desde o século XVI na tabela abaixo:


Estimativas de Imigração Portuguesa no Brasil
PeríodoAmérica
Portuguesa
Império
Colonial
Média anual
América Portuguesa
Média anual
Império Colonial
1500-1580100.000280.0005003.500
1581-1640300.0005.000
1641-1700 120.000 2.000
1701-1760600.000 10.000 
1808-181724.000 2.666 
1827-18292.004 668 
1837-1841629 125 
1856-185716.108 8.054 
1881-1900316.204 15.810 
1901-1930754.147 25.138 
1931-1950148.699 7.434 
1951-1960235.635 23.563 
1961-196754.767 7.823 
1981-19914.605 406



Japones


Em 18 de junho de 1908, desembarcaram os primeiros imigrantes japoneses no porto de Santos, trazidos pelo navio Kasato Maru. Desde então, são muitas histórias: destinos que se selariam numa aventura sem precedentes para aqueles que migraram e também para a sociedade que os adotou.
A emigração de trabalhadores japoneses para outros países teve início na década de 1870, bem antes de sua vinda para o Brasil. O Japão então passava pela Restauração Meiji (1868), o que implicou mudanças econômicas e políticas que inseriram o país no mundo moderno. Este período foi marcado pela queda do xogunato e pela volta do poder às mãos do imperador, por força de uma nova constituição inspirada nas constituições ocidentais modernas.
- Assim, do lado do Japão, a emigração foi um resultado da modernização que marcou uma nova etapa da história japonesa: o país se abriu para o mundo ocidental, celebrou tratados comerciais que, dentre outras coisas, viabilizaram a saída dos trabalhadores japoneses. Nesse período, a política emigratória teve como principal objetivo aliviar as tensões sociais internas advindas da escassez de terras e do endividamento dos trabalhadores rurais, muito em função dos projetos governamentais de modernização.
- Do lado brasileiro, então, a necessidade da mão-de-obra para substituir o trabalho escravo foi o fator primordial pois, desde a Independência, esta substituição já era uma preocupação das classes dirigentes. No entanto, uma política imigratória mais definida só viria a ganhar importância na agenda governamental, com o fim do tráfico de escravos.
O fluxo migratório em direção ao Brasil, entretanto, só se intensificou a partir da primeira década do século XX, justamente quando o governo norte-americano 
- destino preferencial dos emigrantes japoneses - vetou a imigração japonesa.

Resistências à imigração japonesa 


O que marca a presença do imigrante japonês no Brasil são as reações causadas pelas suas diferenças étnicas, ou seja, físicas e culturais. Estas diferenças eram enfatizadas nos debates sobre a sua entrada no país, argumentando-se que os japoneses constituiam-se como um povo impossível de se integrar à cultura local.
Apesar da preocupação com a escassez de 
mão-de-obra, o governo brasileiro não incentivou a imigração de trabalhadores japoneses, senão mais tardiamente. Esta atitude do governo brasileiro condiz com o conjunto de idéias que predominavam no país naquele período:
- Durante todo o século XIX, predominou na sociedade brasileira o ideal de branqueamento da população que era não só visto como possível de ser realizado, como igualmente desejável para que nos tornássemos um país "civilizado".
Por este motivo, nos debates das elites brasileiras sobre a imigração, era forte a resistência à entrada de asiáticos no país, o que explica o decreto de 28/6/1890, em vigor até o início do século XX, restringindo a entrada desses imigrantes.
- Por causa das diferenças físicas e culturais, os trabalhadores japoneses eram vistos como não-assimiláveis, necessitando de vigilância permanente. Esta percepção persiste pelo menos até o Estado Novo, explicando, em parte, a política imigrantista do governo Vargas em relação à comunidade nipo-brasileira. 


- Muitos dos imigrantes japoneses encontraram no comércio urbano sua fonte de renda, mas, sem dúvida, a maioria foi direcionada para a produção agrícola. Muitos foram trabalhar nas lavouras de café paulistas, como colonos.


Principais regiões de destino


A década de 30 até a Segunda Guerra Mundial, foi o período de maior fluxo migratório de toda a história da imigração japonesa no Brasil.

Distribuição dos imigrantes oriundos do Japão, naturais e brasileiros, segundo as Unidades da Federação - 1940/1950 (Regiões selecionadas)
Unidade da FederaçãoDados absolutosProporções por 100.000
1940195019401950
Amazonas305201211156
Pará467421323326
Minas Gerais893917618710
Rio de Janeiro3801.086263841
Distrito Federal538392372303
São Paulo132.216108.91291.48484.302
Paraná8.06415.3935.58011.915
Mato Grosso1.1281.172780907
Brasil144.523129.192100.000100.000



Outros grupos

Judeus: Moishe Nadir, escritor judeu oriundo da Europa Oriental, contava a seguinte história:

Certa vez ele comprou um lote de ações de uma companhia de exploração de cobre. Como as ditas ações não cessavam de cair, ele foi ter com o vendedor, pedindo-lhe explicações para a brusca queda. Este lhe respondeu que o problema era compreensível: a culpa era do Brasil. E seguiu contando a difícil situação econômica vivida pelo país, que havia tido naquele ano uma péssima colheita de bananas, o que havia incidido negativamente sobre a indústria do cobre e, portanto, sobre o valor de suas ações. Ao ouvir isso, Moishe teria respondido: "Isto significa que agora meu destino depende completamente do Brasil e de suas bananas…". Nadir não entendia nada de bananas, e menos ainda sabia sobre o Brasil.

Nos últimos quinhentos anos, por diferentes razões, o Brasil foi o destino escolhido pelos milhares de judeus e cristãos-novos - portugueses de origem judaica convertidos ao cristianismo - que aqui aportaram, originários de Portugal, Espanha, Marrocos, Inglaterra, França, Turquia, Alemanha, Áustria, Polônia, Rússia, Romênia, Holanda, Hungria, Egito e tantos outros países.

Alemães: Os primeiros imigrantes alemães chegaram no Brasil ainda no reinado de D. Pedro I. Estabeleceram-se no Sudeste e Sul do país onde, a partir de 1824, fundou-se a colônia alemã de São Leopoldo (Rio Grande do Sul).
Somente uma pequena parcela da emigração européia, entre ela a alemã, dirigiu-se para o Brasil: cerca de 4 500 000, num universo de mais de 35 000 000 de emigrantes europeus. O restante se deslocou para os Estados Unidos, Uruguai, Argentina, Austrália e para outros destinos.

Italianos: Foram muitas as nacionalidades de imigrantes que vieram para o Brasil desde as primeiras décadas do século XIX, mas o italiano, mesmo não sendo o "mais branco e instruído", ficou marcado como um imigrante adequado e confiável para a execução das tarefas que o Brasil dele esperava.

A importância deste grupo no movimento migratório europeu que teve como destino o Brasil, é enorme por várias razões:
Uma delas é de ordem quantitativa: entre 1870 e 1920, momento áureo do largo período denominado como da "grande imigração", os italianos corresponderam a 42% do total dos imigrantes entrados no Brasil, ou seja, em 3,3 milhões pessoas, os italianos eram cerca de 1,4 milhões.
Outras são de natureza qualitativa: o italiano reuniu as duas condições de imigração mais valorizadas por autoridades públicas, por intelectuais e por empresários privados. A proximidade de língua, religião e costumes, fez o imigrante italiano mais facilmente assimilável por nossa sociedade do que os alemães ou japoneses, por exemplo; além disto, correspondeu aos ideiais de branqueamento de nossa população, acreditado como desejável para que nos tornássemos mais "civilizados" diante de nossos próprios olhos e aos olhos do mundo.

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